2010/03/16

O discurso de género - perspectiva de professoras


 «A única distinção de que eu me lembro é que a gente não podia brincar com menino. Era restrito a isso: ‘não pode brincar com menino’. Só com menina. A minha mãe não deixava; tinha que trazer as coleguinhas para brincar em casa.

O discurso que segrega meninas de meninos, no depoimento da professora, marca fortemente a sua educação feminina. Esta separação não é avaliada negativamente, nem demonstra, para ela, diferença entre a sua educação e a dos irmãos. Todavia, ao se insistir junto a ela sobre os dispositivos pedagógicos repassados para ela e seus irmãos, admite que a “deles era mais livre; não tinha aquela coisa como tinha com a gente, de segurar. Com eles não. Eles eram mais livres. Também eles começaram a trabalhar muito cedo e sempre ajudavam em casa com dinheiro. Mas era diferente. Eram mais livres”. Após uma breve reflexão, ela observa que a diferença entre a educação para os dois gêneros estava na maior liberdade para os meninos.


(...) Antónia (lisboeta), também afirma que não percebia a diferenciação na educação infantil para os gêneros. No entanto, no campo, ela e as irmãs dividiam as tarefas do trabalho juntamente com os irmãos; porém, em relação às atividades do lar, “eles não faziam as tarefas domésticas, mas nós fazíamos os trabalhos do campo”, assegura.

(…) Fernanda (campograndense) relembra o que se esperava de uma menina de sua época: 

Você tinha que ter bons modos; sentar-se corretamente, falar baixo, não correr e nunca falar palavrão. As unhas tinham que estar cortadas e limpas. Tinha que ter uma higiene perfeita, porque senão poderia depor contra a imagem da menina e dificultar o conhecimento de um rapaz de família que a levaria ao altar. Esperava-se da mulher ser uma esposa dedicadíssima e criar os filhos da mesma maneira em que fora criada

FILHA, Constantina Xavier, in Discursos de mulheres professoras e da imprensa feminina no Brasil e em Portugal - proximidades e distanciamentos, VII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, 2008, Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (Universidade do Porto)

4 comentários:

  1. Já percebi que o meu mal está em não cortar as unhas!...

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  2. Os donos de gatos também se esmeram bastante para cortar as garras aos bichos.

    Será que te deixarias domesticar perante uma mesma determinação/força de vontade?

    Ou está para nascer o dono que te cortará as garras?
    :-)

    Outros tempos, amiga. Hoje, duma entrevista a 3 mulheres de 70 anos, sai como se tivesse o cérebro a girar para os dois lados.

    Bjs, Su

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  3. Sabes...estou a pensar arranjar um 'dono', mas só se ele me pagar as contas, oferecer um cartão de crédito sem limite e me instalar numa casota com 10 assoalhadas. Assim sim, pensaria em 'dar a pata', rebolar e fingir que estou morta…

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