2010/03/25

Fazer um filho (por gosto)


Em 1969, Simone de Oliveira ganha o Festival RTP da Canção, com o tema "Desfolhada Portuguesa" (letra de Ary dos Santos), onde se diz que "quem faz um filho, fá-lo por gosto". Uma ousadia!

Nos anos 50, a sexualidade da mulher tinha um propósito reprodutivo, apenas. Não se falava sobre desejo, excitação ou orgasmo feminino. Fazer um filho era uma 'obrigação', um 'automatismo', uma 'sequência' do "acto genésico" (assim designado na altura), que para a mulher tinha apenas lugar consentido no "sagrado matrimónio", sem direito (oficial) a muito gozo e em muitos casos, sem direito real a grande escolha.

Quando Simone de Oliveira regressa do Festival Eurovisão (onde cantou a Desfolhada Portuguesa, em representação de Portugal) é recebida em Santa Apolónia por uma multidão eufórica (Vídeo aqui). O momento era histórico para as mulheres (e não só) de um país onde a procriação não estava minimamente associada à noção de prazer feminino.

Olhar para trás, para as décadas de 40 e 50, no nosso país, tem sido uma experiência  alucinante (e muitas vezes chocante), do ponto de vista emocional.

1 comentário:

  1. Esta tua crónica é muito interessante. Recordo-me de eu mesma, aos 15 ou 16 anos, pensar nesse verso prodigioso! Não me chocou, achei que ela tinha plena razão... porque é que haveria de ser de outra maneira?

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